Convento das BernardasDe Convento a Museu, do silêncio ao diálogo, da clausura ao encontro e à cultura. É a história tumultuosa do Convento das Bernardas (Ordem de Cister), atual Museu da Marioneta no bairro da Madragoa em Lisboa.

Em 1653, por alvará de D. João IV, é fundado no bairro da Madragoa um convento de religiosas recoletas de São Bernardo, sob invocação de Nossa Senhora da Nazaré. Segundo a lenda, ao assinar o alvará, o rei terá ficado milagrosamente curado de um formigueiro no braço: “Sentindo El Rey havia muytos dias huns formigeyros em hum braço, dos qaes tendo assinado com sua mam a licença, ficou de todo livre, sem lhe turnarem a repteir”) (CML, 1972, p.445)

O convento foi construído segundo projeto de João Antunes, num terreno com forte desnível, o que explica a diferença de 3 níveis entre a entrada principal, aberta para a rua da Esperança, e a igreja e o claustro, aos quais se acede por imponente escadaria. Os diversos edifícios conventuais desenvolvem-se em torno das quatro alas do claustro.

A obra da igreja de uma só nave, outrora ricamente ornamentada, foi financiada pela rainha D. Catarina de Bragança. Em 1655, sob a gestão de Soror Antónia do Espírito Santo, vivem no convento 55 religiosas e é fechada a clausura. Segundo descrições da época, a igreja tinha um coro de 57 cadeiras, pinturas com cenas da vida de São Bernardo, uma sala do capítulo era revestida a talha, dormitórios e celas ornamentados com silhares de azulejo. Numa das alas, preservam-se ainda hoje a cozinha, o forno de lenha e um amplo refeitório, que são atualmente um espaço de restaurante.

Em 1755 o terramoto destrói grande parte do convento, reconstruído 3 anos mais tarde segundo projeto do arquiteto italiano Giacomo Azzolini, procurando manter as estruturas de origem. A obra durou vários anos. As freiras só regressam ao convento no último quartel do século XVIII, apesar da igreja ainda não estar concluída. No entanto, esta vivência foi curta. Em 1834 dá-se a extinção das Ordens religiosas e em 1850 o Convento é definitivamente encerrado. Começa então a história atribulada do espaço conventual e do seu acervo artístico, cujo destino praticamente se desconhece. O edificado é sucessivamente espaço de Colégio, Cinema, loja de móveis, sucataria, e sobretudo habitação precária para cerca de 100 famílias, totalizando no início do século XX cerca de 700 pessoas. A estrutura de origem foi desaparecendo, coberta pelas construções precárias das casas dos moradores que aproveitavam todos os espaços. Durante mais 70 anos o convento, incluindo a igreja e o claustro, serão abrigo de várias famílias num processo de constante degradação.

[IIP – Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06 março 1996 / ZEP, Portaria nº 512/98, DR n.º 183 de 10 agosto 1998 *1]